A eternidade do instante

Desde que meus filhos começaram a crescer convivo diariamente com uma sensação de prazer e angústia em meu peito.

Já escrevi em algum texto como é bom vê-los crescendo, mas também é muito doloroso.

Nunca entendi muito bem essa sensação. Porque a dor se o que estou vivendo é tão bom?

Essa semana li um texto do Marcos Piangers muito bom sobre o tempo que temos para passar com os nossos filhos (é possível ler esse texto clicando aqui).

No texto ele cita a quantidade de verões que passaremos na praia com eles, quantas formaturas, celebrações pelas quedas dos dentes de leite, apresentações de final de ano…

E conforme eu lia o texto dele mais meu coração se apertava. E isso não fazia sentido para mim. Por que me lamentar por algo que tenho consciência que está sendo bom?

Por que me lamentar mesmo tendo orgulho da forma como eles estão se desenvolvendo?

Porque simplesmente não aceitar o presente como ele é e ansiar pelo futuro que está por vir?

Então me lembrei de uma palestra do professor de filosofia Clóvis de Barros Filho onde ele fala sobre a vida que vale a pena ser vivida.

Na palestra ele cita o filósofo Nietzsche que dizia “Viva de tal modo que você deseje a eternidade daquele instante”.

Repito: Viva de tal modo que você deseje a eternidade daquele instante.

O professor Clóvis ainda dissertou sobre isso, dizendo que a vida reside no presente e que é ali que a felicidade está.

Viva de tal modo que você deseje a eternidade daquele instante… Sabe quando você está dormindo e, ao acordar, estar na cama é tão bom que você deseja ficar mais 5 minutos?

Ou quando está vendo um filme muito bom e deseja que ele apenas continue?

Ou numa viagem que você não quer que acabe?

Ou com uma companhia que você não quer que se vá?

Então entendi o porquê sinto o aperto no peito ao vê-los crescer.

Porque mesmo sabendo que muitos momentos bons virão pela frente, sei que o momento que estou vivendo (e os que já vivi) jamais serão revividos.

As palavras erradas. As quedas ao aprender a andar. As trocas de fraldas. O primeiro dia de aula. As dormidas em meu peito.

Tudo isso passa e o “nunca mais” vai ficando gigantesco.

Já não me lembro quando foi a última vez que dei banho em minha filha. Acredito que ainda vou dar banho nela, mas…. quantas vezes mais?

… A eternidade daquele instante…

O instante passa e o que nos resta é trazer conosco o prazer de cada momento vivido. E quem sabe até melhorá-los na memória. Já que na lembrança não carregamos o cansaço do dia a dia. A dor nas costas, resfriados, dores de cabeça, falta de tempo e etc.

Se mesmo sabendo disso tudo ainda persiste a dor de que tudo está passando e acabando, agora carrego dentro de mim o conforto de saber que a vida que estou vivendo vale a pena ser vivida.

E que no futuro eu possa olhar para trás e dizer: eu era feliz e sabia!

6 comentários em “A eternidade do instante

  1. Sou sua fã! Sempre que tenho oportunidade leio seus textos. São verdadeiros, inspiradores e fazem muitos pais refletirem na importância de ser pai. Num dia desses estava perto de você e um amigo seu em.nosso condomínio e achei lindo você dizer não a ele quando o convidou para uma.cerveja e de pronto você respondeu que Não porque tinha prometido ao Be ler um livro com ele. Deus abençoe sua paternidade e familia.

  2. Como sempre , me emocionei com seu texto. Vc escreve eu leio e volto no tempo, os meus momentos com eles crianças ficaram no passado .. agora vivo das lembranças de momentos bons e maravilhosos.
    Dia desses minha amiga falando da lista de materiais escolar e das etiquetas e mochilas e retorno às aulas , me deu uma dor no peito de saudades . saudades de algo que não vai voltar !!!
    Parabens Vini. Vc deveria escrever crônicas para jornal ou revista. Tem muito talento e sensibilidade.

  3. Parabénnns!! Você é uma pessoa encantadora, muito especial!! Vou ser repetitiva… amo ler os seus textos, muito reflexivos e sempre nos leva a uma viagem em que você nos embarca em suas emoções e nessa viagem acabamos por relembrar as nossas também. Você é o “CARA”!!

  4. E olha que para não aceitar uma cervejinha o motivo tem que ser muito grande rsrs. Obrigado pela leitura 🙂

  5. Brigaduuuuu! Vou tentar escrever mais vezes esse ano. E quem sabe um dia o livro que você me cobra não sai? Beijos e obrigado novamente pelo carinho 🙂

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